O principal objetivo deste Blogue é dar a conhecer as diversas áreas de intervenção de um Terapeuta da Fala e qual o seu trabalho nas mesmas.

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A Terapia da Fala e a doença de Parkinson


     

     A doença de Parkinson é uma doença progressiva do movimento, originada por uma disfunção neurológica, ou seja, os neurónios secretores de dopamina degeneram-se, sendo que desta forma, os movimentos conscientes do corpo ficam alterados, não havendo controlo na movimentação muscular. Isto é, é uma doença degenerativa que, por norma, desenvolve-se após os 50 anos.



     As principais alterações motoras que ocorrem com esta enfermidade são: tremor; rigidez muscular; lentidão dos movimentos; instabilidade postural, originando complicações a nível da comunicação e da alimentação, sendo assim possível a intervenção do Terapeuta da Fala, com efeitos muito benéficos. 

     Desta forma, o Terapeuta da Fala poderá interceder de maneira a reabilitar/readaptar aspetos ligados à voz, à articulação verbal, à motricidade orofacial e à deglutição.
  • Voz: devido à rigidez muscular, as cordas vocais não contactam correctamente entre si, nem os músculos envolvidos na fonação (produção de voz) são controlados corretamente, surgindo uma voz rouca, soprosa, monótona e, frequentemente, grave e com intensidade reduzida (baixa).
  • Articulação Verbal: nota-se imprecisão articulatória, pois os movimentos não são controlados, não produzindo os sons da fala de forma adequada.
  • Motricidade Orofacial: como em todo o corpo, a nível oral e facial também observa-se tremor, rigidez e descontrolo da musculatura, surgindo muitas dificuldades nas funções estomatognáticas (fala, mastigação, respiração, deglutição e sucção).
  •  Deglutição: devido à dificuldade de mastigação, ao escape de saliva (anterior ou posterior) e ao descontrolo muscular, são constantes os engasgos, observando tosse, pigarreio e “voz molhada”.
      
      A meu ver, as alterações da comunicação podem ser preocupantes, todavia, deverá ser dada grande atenção aos problemas de deglutição, visto que a descoordenação muscular poderá “desviar” a comida/bebida para os pulmões, provocando uma pneumonia por aspiração, sendo esta preocupante e, até mesmo, causa de morte.

       Posto isto, deverá ter em atenção aos seguintes semblantes na alimentação do portador de Parkinson:
  • Se ocorrem dificuldades na mastigação;
  • Se costuma haver escape de saliva (babar-se);
  • Se há acumulação de alimentos na boca após a alimentação;
  • Se é costume pigarrear, tossir e engasgar-se durante a ingestão de alimentos/bebidas.
      Infelizmente, observa-se que estes casos apenas começam a ter acompanhamento da Terapia da Fala em fases tardias, já com grandes comprometimentos no que diz respeito à comunicação e à alimentação. Dado isto, aproveito para salientar a importância da intervenção o mais precocemente possível, podendo prevenir muitas das dificuldades esperadas.

     Em suma, o Terapeuta da Fala deverá realizar uma avaliação (adequada a cada utente) e intervir de forma a melhorar a motricidade orofacial e cervical, a coordenação das estruturas envolvidas na articulação, fonação, respiração e deglutição, bem como orientar todos os familiares e cuidadores.


terça-feira, 3 de abril de 2012

A Terapia da Fala e a Apneia do Sono/Roncopatia



Novamente debruço-me numa área de intervenção da Terapia da Fala pouco abordada em Portugal, no Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e/ou na roncopatia, sendo estas integradas no campo da motricidade orofacial, já anteriormente mencionado neste blogue.

O sono, para além de ser fundamental para descansar e ganhar energias para as tarefas do seu dia a dia, é fulcral para a memória, para fortalecer a imunidade e até para equilibrar o metabolismo. Existem estudos que admitem que uma boa noite de sono pode prevenir a obesidade, alterações da tensão arterial, a depressão e o risco de doenças cardiovasculares, para além de favorecer o desempenho físico e profissional, de fortalecer a memória e de controlar os diabetes.

Porém, existem algumas alterações do sono, como a roncopatia e, num estado mais avançado, o Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS).

A roncopatia é conhecida como o ressonar intermitente e intenso, podendo considerar que é o ruído produzido pela vibração dos tecidos da faringe, localizados entre a língua e o palato, sendo esta devida à dificuldade de passagem do ar pelas vias aéreas superiores. A prevalência desta alteração é maior nos homens, sendo notado um aumento desta em ambos os sexos após os 40 anos (segundo a Sociedade Brasileira de Rinologia e Cirurgia Plástica Facial cit in Soares et al, 2010). Estima-se que em Portugal cerca de 20% da população apresente roncopatia.

Como supramencionado, o SAOS é manifestado numa fase mais avançada do que a da roncopatia, caracterizando-se pela paragem respiratória enquanto dormimos, originada pelo bloqueio da passagem do ar. Esta perturbação do sono tem muitas consequências na vida do indivíduo, como estar constantemente cansado, com sono, com dores de cabeça, mal-humorado, com dificuldades em estar concentrado, com diminuição do desejo sexual, ou até mesmo apresentando impotência, para além de outros problemas para a saúde em geral (hipoxemia, hipercapnia, alterações da tensão arterial, entre outros).

A roncopatia deve ser igualmente levada a sério, pois também tem muitas repercussões, como problemas conjugais, devido à impossibilidade de dormir ao lado do cônjuge, bem como pode aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes e, suscitar maior génese de gordura nos vasos sanguíneos da região do pescoço, aumentando o risco de Acidentes V­asculares Cerebrais Isquémicos.
Algumas medidas de prevenção têm-se demonstrado importantes, como a extração das amígdalas e adenoides (em crianças), a diminuição de peso, o tratamento de anomalias nasais e faríngeas e, ainda, evitar o consumo de álcool, de tabaco e de fármacos com efeitos sedativos.

 
Os tratamentos são variados, dependendo dos resultados obtidos no estudo polisonográfico, tendo todos o mesmo objetivo, impedir que haja o encerramento das vias aéreas durante o sono.

Para além de ter em conta um tratamento comportamental, impondo medidas preventivas a cima referidas, poderá ser ainda proposta a utilização de aparelhos intraorais (alteram o posicionamento da mandíbula), o uso de uma máscara nasal ligada a um respirador (é exercida pressão positiva nas vias respiratórias) e o tratamento cirúrgico (traqueostomia, uvulopalatofaringoplastia, cirurgia de avanço maxilomandibular).

                 
                                                 (máscara nasal)                                                (aparelhos intraorais)

Nos últimos tempos, tem-se apostado numa nova opção de tratamento, a Terapia da Fala, utilizando a terapia miofuncional, que tem sido muito utilizada no Brasil e, que tem testemunhado resultados satisfatórios, tornando a qualidade de vida do utente mais satisfatória.

Num estudo realizado por Guimarães (1999 cit in Soares et al, 2010), os utentes que apresentavam SAOS, após a intervenção da Terapia da Fala, melhoraram de 40 a 50% no que diz respeito ao número de paragens respiratórias, bem como diminuíram significativamente o ressonar e a sonolência durante o dia.

Então, o Terapeuta da Fala deve ser capaz de abordar os pontos-chave no tratamento comportamental, como a posição no sono, a privação de álcool, de tabaco e sedativos, tendo em conta também a chamada de atenção do indivíduo para a perda de peso e para o tratamento das doenças de base, que originam a obstrução (rinites, hipotiroidismo, etc.).

Posto isto, o Terapeuta da Fala irá iniciar a terapia miofuncional, para a consciencialização do problema e necessidade da sua correção e para a melhoria da postura corporal. Posteriormente, serão realizados exercícios e manipulações específicas para a adequação das funções estomatognáticas (fala, mastigação, sucção, respiração e deglutição) e da tonicidade muscular, com o objetivo de reabilitar a musculatura orofacial e faríngea, para que haja uma correta passagem do ar durante o sono.

Podemos afirmar então, que a intervenção da Terapia da Fala nestas perturbações do sono é importante, sendo capaz de auxiliar os utentes portadores de roncopatia e de SAOS, promovendo a diminuição de episódios obstrutivos e, consequentemente, diminuindo o ressonar, o sono agitado, a perda de memória, o cansaço constante e todos os outros problemas advindos destas alterações do sono.




Bibliografia:
Andrade, M. (S.D.) [Em linha]. Distúrbios do sono. Disponível em: http://www.disturbiosdosono.net/apneia-do-sono.shtml. [Consultado a 02/03/2012].
Pereira, A (2007). Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono. In: Arquivos de Medicina 21(5/6); pp. 159-173;
Soares et al (2010). Fonoaudiologia X Ronco/apneia do Sono. In: Revista CEFAC Mar-Abr; 12(2); pp. 317-325;