Como numa publicação anterior referi o trabalho do Terapeuta da Fala (T.F.) no teatro, achei interessante questionar: “Este Profissional poderá intervir noutras artes?”.
Claro! Não só como no teatro, onde é fulcral ter em atenção toda a comunicação e voz, há cuidados a ter tanto no ramo da música, como da rádio e da televisão.
Sendo o T.F. o responsável pela prevenção, avaliação, diagnóstico, tratamento e estudo da comunicação humana e das suas perturbações, deverá intervir nestes âmbitos, fazendo com que a comunicação seja eficaz, evitando o surgimento de problemas, como as patologias vocais.
Na música, mais precisamente com os cantores, o T.F. tem um trabalho fundamental, não só quando apresentam perturbações vocais, mas atuando de forma a que estas não ocorram. A meu ver, é importante salientar que existem muitas diferenças entre a voz falada e cantada, porém as estruturas fonoarticulatórias são as mesmas (língua, laringe, pregas vocais, pulmões, mandíbula, bochechas, dentes, palato (mole e duro), cavidade nasal).
Então, o T.F. deverá orientar o cantor para o uso correto da voz, falada e cantada, sem que este exerça esforços desnecessários que possam prejudicar o seu aparelho fonador.
É fulcral que estes Profissionais trabalhem numa equipa multidisciplinar, juntamente com o Professor de canto e com o Otorrino. O Professor de canto deverá auxiliar o cantor a ter técnica de domínio vocal (da voz cantada), propiciando a expressão de sentimentos e ideias coerentes. Já o Otorrino será o responsável pela avaliação activa e/ou passiva (do movimento ou em repouso) das estruturas fonoarticulatórias, nomeadamente da laringe. Este trabalho conjunto trará grandes benefícios ao cantor, promovendo a sua saúde vocal.
A música poderá ainda auxiliar o T.F. noutras áreas de intervenção, ajudando na aprendizagem, com a estimulação da consciência fonológica e, consequente melhoria na aquisição da linguagem escrita, auxiliando também na estimulação da linguagem (tanto em crianças como em adultos), trazendo assim muitos benefícios na obtenção de resultados, adequando-se a cada caso específico.
Já relativamente à rádio, é sabido que é o único meio que utiliza exclusivamente a voz para a transmissão da mensagem, sendo indispensável que esta seja agradável e que transmita corretamente o que é desejado.
Para que haja percetibilidade da comunicação, a articulação verbal deverá ser precisa, deverá haver controlo da respiração e, é importante que haja conhecimento e uso consciente da própria voz, utilizando-a de maneira a demonstrar as emoções desejadas, com correta prosódia, entoação, velocidade, ritmos e pausas para cada tipo de mensagem. Aí deverá entrar o T.F., pois é o Profissional que orienta para que haja uma boa comunicação, adequando parâmetros alterados (de voz, de articulação verbal e de respiração), bem como esclarecendo de que forma as frases podem ser transmitidas dependendo do seu contexto (notícias, entretenimento, publicidade, etc.) e ainda, novamente, prevenindo que apareçam perturbações no principal instrumento dos Locutores, a voz.
No que concerne à televisão, o trabalho do T.F. não se resume apenas à voz, pois em televisão torna-se importante toda a comunicação, considerando a expressão verbal e não verbal, incluindo ao trabalho, para além da voz e da articulação verbal, o gesto e a expressão facial.
Como na rádio, a voz ouvida através da televisão deverá ser “chamativa”, sendo o T.F. capaz de adequar elementos como a prosódia, a ênfase, a velocidade, o ritmo de fala e etc. a cada tipo de mensagem, considerando ainda alguns erros cometidos na comunicação.
Quando me refiro a televisão, refiro-me essencialmente aos Jornalistas, pois é o trabalho mais reconhecido (mas pouco usado) com os Terapeutas da Fala em Portugal. Porém existem outros âmbitos na televisão, ou cinema, isto é, o T.F. não só poderá auxiliar os Jornalistas a captar a atenção dos ouvintes, através de uma boa comunicação, mas também poderá colaborar com Apresentadores, com o mesmo objectivo e ainda Atores, ajudando-os a adquirir padrões comunicativos (voz, fala, linguagem e comunicação não verbal) para uma correta interpretação da personagem, sem causar quaisquer malefícios nas suas estruturas fonoarticulatórias.
Ou seja, para além de que o trabalho do T.F. nas artes seja ainda escasso em Portugal, sabemos que é possível que este Profissional intervenha em alguns âmbitos, promovendo uma melhor comunicação, captando a atenção do público-alvo e, acima de tudo, prevenindo que apareçam perturbações vocais e alterações na comunicação (distratores da atenção, por exemplo).
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